A crise da representação no Antropoceno como colapso da linguagem
DOI:
https://doi.org/10.55905/rmuscv3n2-001Palavras-chave:
crise semiótica, hiperobjeto, não-humanos, enunciação, inefável, materialidadeResumo
Este artigo investiga a crise ambiental do Antropoceno enquanto uma crise semiótica fundamental, centrada no colapso da capacidade representacional da linguagem humana perante a magnitude dos hiperobjetos. A justificativa reside na necessidade de as ciências da linguagem responderem ao desafio colocado pela nova era geológica, que exige uma revisão dos pactos de significação que organizam a vida coletiva. O objetivo geral é analisar como a linguagem, em seus regimes descritivo e performativo, falha em dar conta da realidade dos fenômenos ambientais, gerando uma aporia representacional. A metodologia consiste numa análise teórico-conceitual de caráter filosófico-semiológico, tomando como corpus as formulações de Timothy Morton sobre hiperobjetos e a noção de Umwelt de Jakob von Uexküll, confrontadas com a teoria semiótica da enunciação. O arcabouço teórico principal articula a semiótica francesa (Greimas, Fontanille) com a filosofia ecológica contemporânea (Morton, Latour). Os resultados indicam que o Antropoceno expõe a insuficiência dos modelos linguísticos baseados na oposição natureza/cultura, demandando uma semiótica materialista, expandida e não-antropocêntrica, capaz de ler os sinais de agentes não-humanos e de operar no registro do silêncio, do trauma e do inefável que caracterizam a experiência contemporânea do mundo.
Referências
FONTANILLE, J. Pratiques sémiotiques. Paris: Presses Universitaires de France, 2008. DOI: https://doi.org/10.3917/puf.font.2008.01
LATOUR, B. Diante de Gaia: Oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. Tradução de Maryalua Meyer. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
MORTON, T. Hyperobjects: Philosophy and Ecology after the End of the World. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.
PAOLUCCI, C. Cognitive Semiotics: Integrating Signs, Minds, Meaning and Cognition. Cham: Springer International Publishing, 2021. Disponível em: https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-030-59975-9
VON UEXKÜLL, J. The theory of meaning. Semiotica, v. 42, n. 1, p. 25–82, 1982. Disponível em: https://doi.org/10.1515/semi.1982.42.1.25 DOI: https://doi.org/10.1515/semi.1982.42.1.25
